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IRAS: um problema de qualidade nos serviços de saúde.

Verificamos na literatura científica que centenas de milhões de pacientes são afetados pelas IRAS (Infecção relacionada à assistência à saúde) a cada ano em todo o mundo, levando a uma mortalidade muito significativa e a enormes perdas financeiras para os sistemas de saúde. De cada 100 pacientes hospitalizados, 7 em países desenvolvidos e 10 em países em desenvolvimento irão adquirir pelo menos uma IRAS (WHO, 2014).

Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) tem demonstrado que a maior prevalência de IRAS ocorre em unidades de terapia intensiva, em enfermarias cirúrgicas e alas de ortopedia. Sendo que as infecções de sítio cirúrgico, infecções do trato urinário e infeções do trato respiratório inferior são as que mais ocorrem (WHO/CSR, 2002).

No Brasil, dados de 2014 publicados pela Anvisa referentes ás UTIs de 1.692 hospitais evidenciaram a densidade de incidência de Infecção Primária da Corrente Sanguínea Laboratorial (IPCSL) em UTI adulto, como sendo de 5,1 infecções a cada 1.000 cateter venoso central (CVC)-dia. Em pacientes pediátricos essa incidência foi de 5,5 infecções a cada 1.000 CVC-dia. Na UTI Neonatal, a densidade diminui à medida que o peso do paciente ao nascer aumenta (Anvisa,2015).

Baseadas em evidências da literatura, medidas para prevenção de IRAS devem ser adotadas em todos os estabelecimentos de assistência à saúde, quer no âmbito hospitalar, em estabelecimentos de cuidados de pacientes crônicos, ou na assistência domiciliar. Pesquisas mostram que, quando os estabelecimentos de assistência à saúde e suas equipes conhecem a magnitude do problema das infecções e passam a aderir aos programas para prevenção e controle de IRAS, redução de até 70% pode ocorrer para algumas das Infecções relacionadas à Assistência à Saúde, como por exemplo, para as infecções da corrente sanguínea (CDC, 2016).

Aproximadamente 20% a 30% das IRAS são consideradas preveníveis através de programas de controle e higiene intensivos, segundo o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC, 2016).

Há um consenso claro dos especialistas na área quanto à necessidade de tomada de ações estratégicas para a redução das IRAS. Ponderando que lições foram aprendidas em função de recentes sucessos, alguns autores propõem que a eliminação de IRAS irá depender de quatro pilares estratégicos de ações: 1) promover a adesão a práticas baseadas em evidência, educando, implementando e realizando investimentos; 2) aumentar a sustentabilidade por meio de alinhamento de incentivos financeiros e reinvestimento em estratégias que demonstrarem sucesso; Nesse sentido e considerando que um Programa de Prevenção e Controle de IRAS depende do monitoramento de indicadores, também foi discutido o tema dos indicadores de infecção de notificação compulsória no âmbito nacional.

Historicamente, a partir de 2010 as notificações dos indicadores de infecção de corrente sanguínea (IPCS) em pacientes em uso de cateter venoso central (CVC) passou a ser obrigatória para todos os estabelecimentos de saúde, públicos e privados, com unidades terapias intensivas (UTI) neonatal, pediátrica e adulto, que totalizem ou isoladamente possuam 10 (dez) ou mais leitos. (Anvisa 2010). A partir de janeiro de 2014, todos os serviços de saúde com qualquer número de leitos de UTI passaram a ter, obrigatoriamente, que notificar mensalmente á ANVISA seus dados sobre IPCS relacionadas ao uso de CVC em UTI e marcadores de resistência microbiana relacionados a estas infecções, além de notificar Infecções de Sítio Cirúrgico (ISC) relacionadas ao parto cirúrgico: cesariana (Anvisa, 2014). Nessa nova versão do PNPCIRAS foram incluídos, além dos indicadores já existentes, os indicadores de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV) e de Infecção do trato urinário (ITU) associadas à sonda vesical de demora.

Embora a notificação compulsória em âmbito nacional se refira á alguns indicadores, destacamos que a vigilância e o monitoramento de todos os indicadores pelas CCIHs são de suma importância para a redução da incidência das IRAS. Bem como, é preciso considerar que a implantação e vigilância desses indicadores apresentarão resultados efetivos apenas, quando aliada ao desenvolvimento de um programa de prevenção e controle das infecções relacionadas à assistência à saúde. (Anvisa 2010).

Outro tema de extrema relevância no contexto da vigilância e monitoramento das IRAS é a resistência aos antimicrobianos que vem sendo discutida em todo o mundo e consiste em um dos mais sérios problemas de saúde da atualidade, uma vez que infecções causadas por bactérias resistentes a múltiplas classes de antimicrobianos tem se tornado cada vez mais comum.

Desde 2001 a Organização Mundial da Saúde – OMS – chama a atenção para um problema mundial: a crescente resistência bacteriana aos antimicrobianos, especialmente para as infecções associadas aos cuidados à saúde. Naquela ocasião, uma Estratégia Global para Contenção da Resistência Antimicrobiana foi lançada como um desafio para as diversas instituições de saúde do mundo, tendo em vista as publicações científicas com números crescentes e alarmantes de infecções por bactérias resistentes a múltiplos antimicrobianos (MDR).

Em 2015, a Assembleia Mundial de Saúde aprovou um Plano de Ação Global em Resistência Microbiana cujo objetivo geral é assegurar a continuidade da capacidade de tratar e prevenir doenças infecciosas utilizando medicamentos eficazes, seguros e com qualidade comprovada, usados de forma responsável, e que sejam acessíveis a todos os que deles necessitam. Para alcançar esse objetivo, o Plano de Ação Global estabeleceu cinco objetivos estratégicos: 1) melhorar a consciência e a compreensão da resistência antimicrobiana; 2) fortalecer o conhecimento através da vigilância e investigação; 3) reduzir a incidência de infecção através de saneamento eficaz, higiene e medidas de prevenção de infecção; 4) otimizar a utilização de agentes antimicrobianos na saúde humana e animal; e 5) garantir o investimento sustentável em novos medicamentos, diagnósticos, vacinas e outras intervenções para as necessidades de todos os países (WHO, 2015; WHO, FAO, OIE 2016).

Esse Plano prevê o comprometimento dos Estados-Membros no desenvolvimento de seus planos de ação nacionais. Por isso em fevereiro de 2016 foi publicado o Manual para Desenvolvimento de Planos de Ação Nacionais, uma publicação conjunta da Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) (FAO) e Organização Mundial para Saúde Animal (OIE) para auxiliar os países na fase inicial de desenvolvimento de novos planos de ação ou atualização de planos já existentes em consonância com os objetivos estratégicos do Plano de Ação Global. Em maio de 2017, o Brasil e demais países signatários deverão apresentar os planos nacionais de enfretamento da resistência aos antimicrobianos na 70ª Assembleia Mundial da Saúde (WHO, FAO, OIE 2016).

Em vista do exposto, verificamos que a vigilância dos dados epidemiológicos referentes à incidência de IRAS, de microrganismos multirresistentes e o monitoramento do surgimento de novos mecanismos de resistência são etapas críticas para o norteamento de estratégias de prevenção e controle, bem como, para o acompanhamento da efetividade das intervenções de

saúde pública e detecção de novos padrões e tendências, e para o fortalecimento e qualificação dos laboratórios de microbiologia, com vistas á melhoria da qualidade e segurança dos serviços de saúde no Brasil.

Leia na íntegra o PROGRAMA NACIONAL DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE (2016-2020) – Clique aqui.

(Fonte: ANVISA)

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